quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Clima subtropical com situações de extremo

Este blogue é uma constante fonte de informações e conselhos, em permanente crescimento, com novas espécies de exóticas frequentemente introduzidas e apresentadas todos os meses. Não deixe de visitar e descobrir as novidades com regularidade!


Clima subtropical com situações de extremo



I
Cidades do sul da Europa continental e ilhas mediterrânicas


É difícil de associar imagens que pensamos ser bastante improváveis. Mas a improbabilidade não é absoluta e por essa razão é que acontece. As regiões do globo onde se verifica um clima subtropical, tem registado situações de extremo que nos deixam perplexos e curiosos como é possível suceder. 
O problema agrava-se quando estas alterações climáticas são bastantes agressivas e capazes de destruir as espécies tropicais que cultivamos na região onde habitamos.
As zonas de Portugal onde o clima permite a introdução de espécies tropicais, raramente tem registos de períodos críticos de acentuado frio, formação de geadas fortes e duradouras ou até queda de neve. O Inverno de 2003/2004 foi um ano atípico e extremo no que respeita às temperaturas mínimas em Portugal. Os valores foram muito fora do habitual e constantes em torno dos 0ºC. No entanto, o quadro característico de noites muito frias em Portugal litoral, descreve-se com céu limpo e ventos do quadrante norte ou nordeste. Assim, a queda de neve é praticamente impossível de se verificar como acontece no médio Oriente.
Nesta região, o clima continental que se verifica no interior cria condições para a formação de queda de neve com alguma regularidade. Vejamos o exemplo do ano de 2013, em que nevou por duas vezes, respectivamente a 10 de Janeiro e a 12 de Dezembro desse mesmo ano. As imagens surpreenderam o mundo, todavia, é certo que a cada ano a situação repete-se e é habitual para os moradores daquelas regiões. Não para a restante população do mundo que associa o médio oriente a intenso calor no Verão e Invernos suaves. 
Aliás, existe uma série de espécies de arecáceas oriundas do médio oriente que estão perfeitamente adaptadas a climas extremos com amplitudes térmicas extremas que variam entre os 40ºC e os -20ºC, sendo a mais emblemática a Nannorrhops ritchiana (Afeganistão e Paquistão), outras espécies estão adaptadas à dureza do Inverno, como a Phoenix canariensis (Ilhas das Canárias) e a Washingtonia robusta (México) e W. filifera (México e sul da Califórnia e Arizona) ainda que nos locais de origem possa registar bastante frio mas sem queda de neve. A Phoenix dactylifera (Península arábica até ao sul do Paquistão) é a palmeira com maior telerância a amplitudes térmicas diárias e comum por todo o médio oriente, é capaz de suportar neve com bastante facilidade.
A curiosidade está na graça e espanto que o público demonstra ao ver imagens de palmeiras sob neve. De um modo geral as pessoas associam todas as palmeiras a climas quentes e tropicais, ainda que inúmeras espécies são plantas de climas muito frios durante o Inverno.
O intuito deste artigo é explorar a surpresa e dar a conhecer como o mundo vegetal é bastante versátil e soube adaptar-se aos diversos climas do globo.

Começo com duas fotos absolutamente notáveis mas que estão bastantes distante entre si. Refiro-me do ponto de vista geográfico, já que a primeira mostra-nos uma situação algo rara e a segunda bastante mais comum.
Uma alameda de Phoenix canariensis alinhadas é um cenário muito vulgar por todo o litoral da bacia mediterrânica, até mesmo de cidades do interior dos países setentrionais da Europa. Porém, a paisagem torna-se admirável e surpreendente quando contemplamos todo este belo conjunto coberto de neve.
Esta foi uma das imagens que me inspirou a estudar cuidadosamente estas situações metereológicas. Ainda que desconhecido do público em geral, percorrendo o centro e norte da Europa, encontramos exemplares de Trachycarpus fortunei (desde a China até ao norte da Birmânia) os quais suportam temporadas relativamente longas de queda de neve e temperaturas baixas. Assim, a foto que se segue é, no seu sentido absoluto, trivial para os botânicos e estudiosos desta ciência.


Em cima, foto registada no dia 10 de Janeiro de 2013, em que uma tempestade de neve cobriu a região de Jerusalém. No Jardim Zoológico daquela cidade, a imagem insólita de um grupo de flamingos numa paisagem boreal. Algo estanho nesta situação que curiosamente se repetiu a 12 de Dezembro do mesmo ano. As fotografias em baixo, documentam esse dia. No sul de França, em 1985, uma vaga de frio com intensa queda de neve, matou dezenas de animais semelhantes, desprotegidos por se encontrarem em estado selvagem.
Os entusiastas de jardins tropicais que complementam os seus espaços com aves exóticas, têm nestes exemplos uma confirmação como Portugal desfruta de condições propícias ao cultivo e criação de espécies vegetais e animais exóticas.

Uma mulher caminha debaixo de forte queda de neve que ocorreu a 12 de Dezembro de 2013. Ao fundo, várias Phoenix dactylifera cobertas de neve numa perspectiva insólita. Vários países da região foram atingidos pelo frio intenso com precipitação em forma de neve.


Após a queda de neve, este palmeiral em Jerusalém chama a atenção pela surpresa da situação.
 Em baixo, a 9 de Fevereiro de 2012, o episódio repetia-se na cidade de Palma de Maiorca, na Ilha de Maiorca em Espanha. A população foi surpreendida por ver neve no areal das praias da cidade. Foram momentos históricos naquela ilha, já que o último registo de uma forte tempestade de neve tinha ocorrido há cerca de 50 anos.
Uma Phoenix dactylifera em cima e em baixo várias P. canariensis num cenário pouco comum mas possível. As baixas temperaturas não provocam riscos para estas espécies, ainda que os indivíduos não estejam habituados a um abaixamento tão acentuado da temperatura.


Em cima, uma Phoenix canariensis juvenil, em Palma de Maiorca, sujeita à tempestade de neve de 9 de Fevereiro de 2012.
 Em baixo, uma outra Phoenix canariensis, resiste ao peso da neve depositado nas suas folhas depois de uma intensa queda de neve a 10 de Janeiro de 2013, em Jerusalém.

 A 8 de Janeiro, o frio intenso que haveria de chegar dois dias depois a Israel, Palestina e Jordânia, atingiu a Síria e a Turquia. Imagens da mesquita de Sultanahmet, mais conhecida por mesquita Azul perto de uma Phoenix canariensis já acostumada a dias de bastante rigor.

As imponentes Phoenix canariensis mantém-se firmes sob a severidade do clima.



 As imagens habituais de Palma de Maiorca contemplam palmeiras mas raramente num cenário atmosférico  mais habitual das regiões da Europa do Norte. Em baixo, repare no lado direito da foto registada na capital da Jordânia, Aman, a 10 de Janeiro de 2013, onde o peso excessivo da neve que cobre as Washingtonia robusta faz vergar as suas folhas.


 A praia próxima a Palma de Maiorca, coberta de um manto de neve a 9 e 10 de Fevereiro de 2012.


A 11 de Janeiro de 1960, um forte nevão assolou a cidade de Valência, em Espanha. Esta imagem de uma Phoenix dactylifera coberta de neve, é reproduzida pontualmente por toda a região mediterrânica. 

A interessantíssima foto mostra um exemplar de Syagrus romanzoffiana (Brasil ao noroeste da Argentina) envolta em neve. Esta imagem verdadeiramente rara prova como algumas espécies descritas como menos resistentes, adaptam-se.
Atrás do primeiro ministro israelita Benjamin Netanyahu, a parede está coberta por uma Ficus pumila (Sul da China até à Malásia) e uma Yucca gigantea (México até à América Central).
A mesma espécie mas num raríssimo registo de 3 de Fevereiro de 1954, quando as temperaturas chegaram aos -3,8ºC. No parque da cidade de Málaga, consegue-se perceber o estipe de uma Syagrus romanzoffiana.

Se aprofundarmos um pouco nos registos históricos de climatologia das regiões mediterrânicas, apercebemos que existem ciclos de períodos de frio muito intenso, com um intervalo de cerca de 50 anos. O que ocorreu em 1954, nos primeiros dias de Fevereiro na costa da Andaluzia, foi um fenómeno que hoje justificaríamos como resultante das alterações climatéricas em função do aquecimento global. Contudo, naquela época, os meteorologistas somente registaram a passagem daquela massa de ar frio caracterizando-a como incomum e pontual. Pouco importa saber as razões mas importa conhecer a periodicidade e o risco de isso suceder, já que as espécies exóticas que proponho não toleram temperaturas extremas nem queda de neve. 
A neve em Huelva atingiu cerca de 40 cms e manteve-se no chão em estado sólido durante uma semana. A precipitação durou cerca de 3 horas. Málaga foi igualmente atingida e comentava-se que aquele fora o maior nevão desde 1881. Uma tempestade formou-se junto ao golfo de Cádis provocando precipitação. Os valores mínimos abaixo de 0ºc associados a essa precipitação provocaram a queda de neve em quase toda a costa andaluza. 

A entrada de massas de ar frio siberiano acontece cerca de 2 vezes anualmente e atingem as costas mediterrânicas, bem como o litoral português. Para que se possa produzir um nevão, há que coincidir esta massa de ar com instabilidade vinda do Atlântico, de modo a que a humidade vinda dessa frente se misture com o frio polar e acabe por cair em forma de neve. As hipóteses são muito baixas, já que, regularmente, as frentes de ar atlântico empurram o ar frio, protegendo-nos destes nevões.

De uma maneira geral, os nevões não são fenómenos expectáveis senão a queda de água gelada com um temperatura entre os 2 a 3ºC. O chão fica igualmente coberto de um manto branco, não sendo propriamente neve. Estas ocorrências são muito frequentes em todo o mediterrâneo e surgem praticamente todos os anos.
São momentos de grande risco para as plantas já que a seiva pode congelar, acabando por morrer devido às queimaduras. É absolutamente imperioso proteger as espécies exóticas quando se verificam estas condições climatéricas.

Uma outra questão prende-se com o aumento e crescimento das zonas urbanas, as quais formam as designadas ilhas de calor. As construções tendem a conservar o calor solar diurno e a libertá-lo durante a noite, aumentando em 2 ou 3ºC a temperatura relativamente aos arredores. Por outro lado, o tráfico e a energia libertada aquecem permanentemente o ar urbano, impedindo que o frio intenso se torne uma ameaça com a dimensão que, por vezes, se verifica a poucos quilómetros de distância.

O registo fotográfico de Huelva, a poucos quilómetros do Algarve, onde a queda de neve foi acentuada naquele dia 3 de Fevereiro de 1954.
De seguida, o mesmo momento em Sanlucar de Barrameda, perto de Cádiz.

Em baixo, o nevão que cobriu Alicante, com o Monte El Montgó e a cidade a acordar de uma forma diferente.



A 27 de Janeiro de 2005, voltou a nevar na costa tropical, na província de Granada, após 50 anos. Esta imagem inusual de uma praia nevada, não longe de Almuñécar, uma das regiões mais amenas de Espanha, demonstra como a iminência de se produzir um nevão, deve ser encarada com seriedade.
Esta zona de Espanha, é das mais ricas em paisagens com espécies tropicais e lamentavelmente não tive sucesso em reunir documentos que mostrassem os efeitos após a severidade destas condições atmosféricas. No ano de 2012, visitei toda a região e, pelo que pude constatar, os exemplares adultos das espécies menos tolerantes pareciam ter sobrevivido com alguma tranquilidade àquele período.

Uma outra inusitada imagem de Barcelona, a 25 de Dezembro de 1962. Antes desta imagem, a mesma cidade foi atingida por um fortíssimo nevão a 9 de Fevereiro de 1887, o qual voltou a verificar-se a 8 de Março de 2010 e 2 de Fevereiro de 2012.


 Em baixo, o famoso Passeio da Graça, no coração da cidade catalã em 1962.

Em cima, um interessantíssimo postal que mostra, Jacaranda mimosifolia (Bolívia e noroeste da Argentina) cobertos de neve. Veja a impressionante altura da neve que quase faz desaparecer o banco de jardim.

 Avenida diagonal, em Barcelona a 9 de Março de 2010.

Calle Balmes, na mesma cidade a 9 de Março de 2010.

 A praia de Barceloneta, coberta de neve, em Barcelona


 Em cima, as palmeiras Trachycarpus fortunei (Da China até ao norte do Myanmar ou Birmânia) no pátio da sede da câmara municipal de Barcelona, encontraram naquela mesma data o ambiente natural da região de onde é oriunda a espécie. Em baixo, o bairro de Badalona., com as Phoenix canariensis a ceder ao peso da neve.

Uma Washingtonia robusta fustigada pela queda de neve intensa.

 Um aspecto da Avenida diagonal, em Barcelona a 8 de Março de 2010. As inúmeras Phoenix dactylifera tomam um aspecto estranho em ambientes desta natureza.

A 2 de Fevereiro de 2012, a neve forte regressa à cidade habituada a estas condições.


Naturalmente toda a região do Mediterrâneo a norte de Espanha, conhece as mesmas condições meteorológicas que tenho vindo a relatar. Entro agora no litoral francês e as cidades que se seguem, causam menos surpresa.
A vaga de frio sentida por todo o mês de Janeiro de 1985, extremamente severa, e que atingiu todo o território francês, chegou também ao sul. Na Camarga, centenas de flamingos morreram vítimas do frio. Outros ficaram prisioneiros pelo congelamento das águas. Os valores dramaticamente baixos provocaram destruição na vegetação local e exótica. Neste ano, as temperaturas em toda a costa mediterrânica francesa oscilaram entre os -7ºc e os -10ºc.

Em Montpellier, a cidade foi atingida por um nevão em Dezembro de 2007, como demonstra a imagem em baixo.
No ano 2000, a neve cobre o Jardin des Plantes, o jardim botânico local, onde as Trachycarpus fortunei reencontram um ambiente muito semelhante à região de onde são originais.
E em Março de 2010, repete-se o flagelo da neve em Montpellier.

Esta é a imagem da consequência da geada neste grupo de Phoenix canariensis. A neve provou causar menos estragos às palmeiras que a forte geada, já que é mais persistente e afecta os tecidos das plantas mortalmente. Este cenário data de Janeiro de 2014 e crê-se que muitos destes indivíduos não venha a ter recuperação. Encontram-se ao norte da cidade de Montpellier.


A cidade de Marselha, amanheceu a 7 de Janeiro de 2009 com temperaturas muito baixas e com bastante queda de neve. O encontro do mar mediterrânico, cujas cores cristalinas de azul tão característico contrastou com a brancura da neve. Este quadro, raro, destaca-se pela sua singularidade.
 Em cima e em baixo, a cidade de Marselha a 7 de Janeiro de 2009.
 Washingtonia robusta em Marselha parecem não tolerar o frio. Contudo o comportamento das suas folhas deve-se única e precisamente por estarem sujeitas à força e ao peso da neve.



Em cima, as águas do mediterrâneo geladas, no Velho Porto daquela cidade numa ocasião muito peculiar para aquela latitude. Em baixo, o mar transparente que associamos ao mediterrâneo cálido, porém atraiçoado neste dia de 7 de Janeiro de 2009.

 Estas duas imagens estão distanciadas por 3 anos somente. A 10 de Fevereiro de 2012, voltou a cair neve naquela cidade. A queda de neve nesta região é esperada uma a duas vezes por ano, sendo, definitivamente a zona da costa mediterrânica francesa a que mais recebe intempéries de neve.

A 4 de Fevereiro de 2012, a costa entre Toulon e Marselha, foi tomada de surpresa pela neve, rara nesta região francesa.
A imagem de baixo regista a neve sobre o mar mediterrânico na praia de Mourillon, perto de Toulon.

 Em cima, a Phoenix canariensis, resistente ao frio porém vítima do escaravelho vermelho.
 Belíssimas imagens da praia de Mourillon, Toulon, onde o mediterrâneo encontrou um novo enquadramento.

Um cenário que aconteceu anteriormente em 1961.





 Em baixo uma rotunda ornamentada com um conjunto de Syagrus romanzoffiana, que parecem ter sobrevivido bem à intempérie de neve.


 Em cima, Washingtonia filifera, na praia de Mourillon em Toulon. Fevereiro de 2012.

Agave americana (sul dos EUA e México) envolvidos em neve na região de Toulon em Fevereiro de 2012. Nesta cidade durante o mês de Fevereiro de 2012, nevou por 3 vezes.
 Esta rotunda cuja vegetação é vulgar no mediterrâneo, torna-se insólita quando sujeita a estas condições atmosféricas.
 Ainda na cidade de Toulon, estas Puya sp. são frequentemente cultivadas como ornamentais em zonas de climas quentes. Nesta imagem, o Pinus halepensis (Mediterrâneo) parece não coincidir com a paisagem nevada de Toulon.
As Chamaerops humilis (Mediterrâneo) desta urbanização em Toulon, parecem pertencer a uma cidade da Europa do Norte

A costa mediterrânica, dificilmente a associamos a esta imagem. Trata-se do litoral da região de Toulon em Fevereiro de 2012.


Hyères, também na costa mediterrânica francesa, a 3 de Fevereiro de 2012, bem como as fotos que se seguem. Em Novembro de 1962, registou-se o maior nevão de França, o qual atingiu todo o sul mediterrânico francês.


Conjuntos e composições de ambientes subtropicais num panorama completamente oposto ao normal.
Em cima e em baixo, exemplares de Yucca thompsoniana (sudoeste dos EUA e nordeste do México) habituadas a estas adversidades pontuais do clima nas regiões de onde são oriundas, não parecem ter sido afectadas.
A região de Hyères, no sul de França, está densamente ornamentada com espécies subtropicais o que torna aquela zona, onde regularmente se registam quedas de temperatura, com paisagens peculiares.
O exemplar de Phormium tenax (ilha de Norfolk, Nova Zelândia) resiste bem a estas condições severas, desde que pontuais.


Em cima, a imagem rara e curiosa de Nice sacudida por um nevão em 1895. 

A imagem data de 2 de Fevereiro de 1956.

O efeito causado pela vaga de frio de Janeiro de 1985 foi devastador, com a destruição de grandes quantidades de vegetação. As palmeiras ficaram seriamente queimadas pela geada em toda a Côte d'Azur.

 A praia de Nice, em Janeiro de 1985 com 38 cms de neve acumulada.

 Os danos causados pelo forte nevão sobre as palmeiras, alguns meses depois. As temperaturas desceram nesta cidade até -7ºc durante vários dias.



Entre 19 e 20 de Dezembro de 2009, a cidade volta a conhecer um frio intenso e já habituada a estas ocorrências os habitantes registaram com entusiasmo a paisagem agora transformada.


Duas perspectivas que registam suculentas de uma varanda privada. É inusitado ver estas plantas debaixo de neve.

 As imagens comprovam o forte nevão que ocorreu neste dia 19 de Dezembro de 2009.

 O centro da cidade de Nice, que se assemelha a uma cidade do norte de França.

Associamos o meio ecológico das Opuntia indica (México) a regiões semiáridas sem registo de neve. Nesta fotografia, a cor forte do mediterrâneo lembra-nos de imediato a canícula do Verão. No entanto, passou-se exactamente o contrário neste dia de extremo frio, a ponto de a neve não ter derretido com os raios solares.

 Em cima e em baixo, uma fascinante fotografia que nos mostra um canteiro com suculentas, debaixo de neve. Várias Agave sp. na imagem seguinte, entre as quais ao fundo e a meio, a Agave angustifolia var. angustifolia (México até à América Central), em primeiro plano a Agave americana var. mediopicta (México e Arizona e Texas), à direita a Agave americana (sul dos EUA e México) e à esquerda a Agave sisalana variegata (Chiapas, México). Ao fundo um Aloe ferox (África do Sul). Todas as espécies são capazes de aguentar baixas temperaturas, não obstante de raramente as observarmos em situações similares.

 A imagem da muito conhecida praia Baía dos Anjos, em Nice, porém pouco conhecida com neve.

Em baixo, um banhista destemido com o frio e a neve que caiu a 19 de Dezembro de 2009 sobre a cidade de Nice.

 A 11 de Fevereiro de 2010, volta a dar-se queda de neve e a cidade conhece novamente as cores do Inverno boreal.

 A espessa camada de neve cobre o solo e deixa a vegetação fragilizada.
 Em cima e em baixo, uma vista estranha para uma paisagem tradicionalmente mediterrânica, onde não esperamos ver oliveiras e palmeiras atingidas por neve.



Na Córsega, em pleno mar Mediterrâneo, a cidade de Bastia, foi surpreendida por um nevão forte a 7 de Fevereiro de 2012.





As ilhas mediterrânicas, como já descobrimos, não estão a salvo das fortes intempéries de neve. Mas o inesperado acontece até numa das cidades mais amenas de toda a bacia mediterrânica: Palermo, na Sicília. Em Março de 1949, em 1981, em 1999 e em Fevereiro de 2009, correntes de ar polar percorreram toda a península itálica chegando a atingir a maior ilha da região sul da Europa.
O nevão de Março de 1949, na cidade de Palermo


 Em cima e em baixo, o nevão de 1981. O jardim da Villa Trabia, no centro de Palermo, coberto de neve.

A 31 de Janeiro de 1999 verificou-se outro intenso nevão que chegou a cobrir as praias da zona norte da ilha.
A foto acima ilustra a queda de neve em Terrasini, um aglomerado populacional na lioral, junto ao aeroporto de Palermo em Punta Raisi.
Em baixo, em Trappeto, ao longo da costa em direcção a sul.
O porto coberto de branco e em baixo, o mesmo local com o aspecto habitualmente visto.
Em baixo, a praça principal de Trappeto.


A localidade seguinte, em Castellamare del Golfo, em baixo.




Em baixo a praia de Mondello, nas imediações da cidade de Palermo.

 O parque da Favorita, no perímetro da cidade.

Via Morello Nunzio, Palermo, em baixo no ano de 1999. Repare-se nas Ceiba speciosa ( norte da Argentina e sul do Brasil) cobertas de neve.

Segue-se uma foto da Via Leonardo da Vinci, em Palermo,

Já no século XXI, a 13 de Fevereiro de 2009, uma nova situação de queda de neve.
 Em baixo, a Porta Nova, junto ao Palácio dos Normandos, no centro histórico de Palermo.

Nem as ilhas Eólias ou Eólicas, escaparam a esta rara situação atmosférica. A imagem em baixo, mostra a localidade de Canneto, na ilha de Lipari, a 13 de Fevereiro de 2006.


Por vezes as massas de ar polar são tão pujantes que atravessam o mar mediterrâneo e chegam às costas do norte de África, para surpresa de todos. São ocasiões muito raras, porém plausíveis, tal como ficou registado no mês de Fevereiro de 2012.
A 6 de Fevereiro de 2012, a neve chegou à cidade Líbia de Tripoli, foto em cima, e a 8 do mesmo mês atingia Argel, a capital da Argélia, foto em baixo.


Voltando a entrar no continente europeu, a cidade de Brindisi, no extremo sul da península italiana, conheceu, já no século XXI, dois nevões em Abril de 2003 e Dezembro de 2007.
As imagens em baixo são de 14 de Dezembro de 2007.



Bari, uma cidade com um clima bastante ameno também conheceu dias de neve.

Em baixo, o porto de Mola di Bari, em Fevereiro de 1956.

 Em baixo, a 7 de Abril de 2003

Em 2007, volta a conhecer uma nevão, como se pode admirar nesta fotografia do centro da cidade de Bari.

A Piazza del Policlinico, a 15 de Dezembro de 2010.

E mais recentemente em  Fevereiro de 2012



Em baixo, o grande nevão de Fevereiro de 1956, sobre a cidade de Nápoles. O ano de 1956 foi particularmente severo para a Europa do sul, sobretudo em França e Itália, que conheceram temperaturas anormalmente baixas para aquelas regiões. Uma massa de ar siberiano, estabilizou-se nas regiões meridionais dos dois países onde permaneceu cerca de 20 penosos dias, criando condições para a queda de neve. As temperaturas extremas registadas chegaram a valores assustadores como por exemplo, -13º C em Florença e Pisa, -11º C em Grosseto, - 10º C em Crotone, -8º C em Roma, -7º C em Génova, -6º C em Nápoles, -5º C em Cagliari, -3º C em Bari, Lecce e Brindisi, - 2º C em Palermo e Messina com 0º C.
 Em baixo, no mesmo mês, a Via Scarlatti, no centro de Nápoles.

Em Dezembro de 1973, volta a receber neve, como a imagem comprova, no Corso Vittorio Emanuele.

Em Nápoles e nas ilhas vizinhas, como Ischia, Anacapri e Capri, a neve foi inclemente e cobriu uma região cálida, até durante o Inverno, e conhecida pela paisagem com exemplares subtropicais e tropicais. As fotos que se seguem são de 17 de Dezembro de 2010.
 Em cima, um exemplar de Strelitzia nicolai (África do Sul), carregada de neve e um exemplar de Ficus elastica, enquadram um panorama raro de ser observado.
 Em baixo, Syagrus romanzoffiana coberta de neve. Imagem estranha para o litoral mediterrânico, porém, não fora deste enorme risco.



Em Fevereiro de 2012, a neve regressa à região e atinge as ilhas circundantes a Nápoles, bem como a própria cidade.
Em baixo, três zonas da cidade de Nápoles. Primeira foto em Chiaiano, segunda foto em Camaldoli e a última em Vomero Alto, bem junto ao mar.


Em baixo, a ilha de Anacapri, na mesma data.


No final do ano de 2012, surpreendentemente a neve mostra-se em Dezembro. A imagem é da ilha de Ischia.


Para terminar a ronda pela bacia do Mediterrâneo, uma imagem da zona metropolitana de Atenas, junto ao mar. Alimos, em 18 de Fevereiro de 2008.



II
O caso de Lisboa e das regiões litorais do sul de Portugal

Lisboa acordou com um manto de granizo a cobrir o chão como se fizesse acreditar que havia nevado. Pelas 8.30 da manhã de 17 de Janeiro de 2014, o cenário parecia uma cidade da Europa setentrional. A queda de granizo fora tão intensa que acumulou-se até uma altura de 30 cms. Tudo parecia nevado, embora a temperatura ambiente rondasse os 10ºC. Um cenário impossível se se tratasse de neve, já que a mesma teria derretido de imediato. As imagens mostram a contradição de situações nestes cenários naturais de clima habitualemente suave durante o Inverno, onde prosperam espécies subtropicais e tropicais, debaixo de um manto espesso de gelo. Cerca de 20 dias mais tarde, as folhas das espécies tropicais mais delicadas revelaram os danos causados pela queda das pedras de granizo. Folhas picotadas e até mesmo rasgadas pelo peso da queda das pedras.

Em cima, a única foto do autor, que regista a queda de granizo a 17 de Janeiro de 2014. No relvado da zona de Telheiras, denotam-se ainda vestígios de pedras acumuladas no solo.




Em cima, em Oeiras, as ruas tornaram-se impraticáveis.
Em baixo, em Carcavelos, a curiosa fotografia regista uma Bougainvillea spectabilis (Brasil) à direita e uma Strelitzia reginae (África do Sul) à esquerda, num ambiente metereológico raro.


Em baixo, as Tipuana tipu (Bolívia e norte da Argentina) num ambiente ecológico pouco comum.

Em cima, não fora a Phoenix canariensis, poderia esta ser uma imagem de uma cidade da costa atlântica espanhola ou francesa. As Trachycarpus fortunei (desde a China até ao Norte da Birmânia) bem como a Eriobotrya japonica (sudeste da China) sobrevivem em climas de cidades como Bruxelas, Amesterdão ou Paris, onde frequentemente neva, não causando danos consideráveis nos indivíduos destas espécies. A datação da foto não estava actualizada e registou o ocorrido no dia 17 de Janeiro de 2014, efectivamente.




 Em cima, uma vista sobre o jardim do Campo Grande, e em baixo, o granizo acumula-se no solo e não sobre as ramagens das palmeiras (Washingtonia robusta e phoenix canariensis) já que as pedras bastante pesadas, dada a sua dimensão, acabam por tombar, ao contrário do que sucederia com uma eventual queda de neve.





A zona de Telheiras foi também muito afectada criando este panorama insólito de palmeiras num manto branco.


Em baixo, na zona de Benfica em Lisboa, a queda foi de tal forma intensa que atingiu 30 a 40 cms de altura.



 Um cenário muito inusitado para Lisboa onde não estamos habituados a ver a calçada portuguesa nesta situação metereológica.

 A norte de Lisboa, na zona de Alfragide e Carnaxide, os campos lembravam a zona serrana da Estrela ou de Trás-os-Montes.

 A queda de granizo verificou-se durante 20 minutos entre as 8.30 e as 8.50 da manhã, originando grandes quantidades acumuladas.

Episódio idêntico sucedeu a 29 de Abril de 2011, quando, em plena Primavera Lisboa, cobriu-se de branco. Novamente o granizo provocou a surpresa dos Lisboetas. A zona de Benfica, Amadora e Oeiras foram, à semelhança de 17 de Janeiro de 2014, as mais afectadas.


Episódio semelhante aconteceu num dia de Páscoa de 2003, por volta de 20 de Abril, na ilha de Porto Santo, quando a praia foi coberta por uma forte queda de granizo, ocasião absolutamente rara e inesperada, principalmente, naquela estação do ano. Nesta latitude, muito mais a sul que o território português continental, conheceu uma vaga de frio intenso, a ponto de pôr nervoso o mais negligente jardineiro, pelos danos causados com este fenómeno atmosférico.





Conclui-se que os locais de Portugal continental e insular onde menos esperamos que sejam afectados por estas severas condições meteorológicas, estão também sujeitos às intempéries com queda de chuva congelada, granizo intenso e neve, pelo não deve ser subestimada nenhuma área continental do país. A frequência de presença de neve na capital como no Algarve, as zonas mais amenas do país, é duvidosa ainda que os relatos sobre estas ocorrências sejam muitos. Contudo, achei muito interessante este ponto de vista defendido pelo Sr Pedro Cotrim, no seu blogue Astropt, acerca do clima benevolente de Lisboa.
«(em 2006) os flocos de neve riscaram os céus da zona da Grande Lisboa, surpreendendo os seus habitantes pouco habituados a esta forma de precipitação. Apesar de a cidade estar relativamente quente e de não ter havido acumulação no solo, em algumas zonas dos arredores a tempestade foi suficiente para cobrir telhados, carros e algumas estradas.
Loures, Queluz, Odivelas, Alverca, Palmela e muitas outras zonas dos arredores ficaram pintadas de branco, para espanto e gáudio dos moradores. Monsanto, o “pulmão” da Lisboa, bem no centro da cidade, chegou a parecer o cenário de um postal de Natal.
Curiosamente, a zona norte do país, bem mais habituada aos cenários de invernia, foi poupada ao nevão. A meio da tarde estavam zero graus em Lisboa, em grande contraste com os oito positivos que se faziam sentir na cidade do Porto e abaixo dos três positivos de Bragança e Guarda, dois dos “pólos do frio” do nosso país – as duas cidades chegam a registar mais de 20 dias de neve por ano.
Mas a memória meteorológica tende a ser curta. Muitos de nós já ouviram expressões do género “não me lembro de chover tanto” ou “nunca senti tanto calor como agora”, quando, na realidade, a certeza dos números demonstra que o passado recente foi tão ou mais rude que o que se sente agora na pele.
E os números e factos do passado dão uma conta certeira dos fenómenos meteorológicos. Nevou em Lisboa em 2006. Em 2007 voltou a nevar, mas apenas em certas partes localizadas dos arredores. Já tinha nevado em 1993, novamente nos arredores, e em 1987 várias zonas pouco distantes da capital portuguesa tinham ficado cobertas por um manto considerável de neve: Palmela, Leiria, Fátima (curiosamente, esta zona de peregrinação religiosa apresenta um microclima que origina precipitações em forma de neve quase todos os Invernos. Fátima está perto do oceano e numa zona de baixa altitude, que a tornaria num local pouco propício a este tipo de precipitação) e muitas outras.
Mas o passado ainda recente de Lisboa demonstra que a neve não é um fenómeno assim tão incomum. O que já eram nascidos recordam o grande nevão de Fevereiro de 1954, e os mais velhos testemunharam ainda muito mais. Nas décadas de 1940 e 1950 os Invernos lisboetas costumavam presentear os habitantes da cidade com neve quase todos os anos, e em 1950 chegou a nevar em 4 dias. Os registos orais narram queda de neve anual nas décadas anteriores, pelo que o cenário de uma Lisboa coberta de neve nem terá sido suficiente para puxar o assunto para uma primeira página de alguns dos diários da época. Em alguns anos do século XIX, o fenómeno de uma Lisboa coberta de neve durante dias a fio terá sido frequente.

Dia 1 de Novembro de 1755. Um dia santo para o cristianismo. Dia de todos os santos, feriado religioso desde o século XI. A população de Lisboa estava, na sua grande parte, albergada nas igrejas, onde, além de rezar, se podia abrigar do frio cortante que se fazia sentir na capital portuguesa. Segundo alguns historiadores, e de acordo com os testemunhos orais, a temperatura estaria próxima dos zero graus centígrados, visto alguns pequenos lagos e chafarizes da capital se encontrarem gelados. Nos nossos dias, é uma temperatura rara para o começo de Novembro na maior parte da Europa não montanhosa. No dia 1 de Novembro, as médias climatológicas dos últimos 40 ou 50 anos asseguram que Paris tem uma média de 10 graus, Amesterdão 8, Berlim 7 e Varsóvia 5. Mesmo Moscovo escapa por pouco a uma média negativa para o dia: +1ºC. Uma manhã do dia 1 de Novembro com uma temperatura atmosférica próxima da da congelação da água não é, pelo que se depreende, muito frequente nas primeiras destas cidades, consideravelmente mais frias que Lisboa.

Portugal, pela sua situação geográfica, fica na zona temperada do hemisfério norte, a uma latitude média de 40º N. Os extremos, Faro a 37º N e o topo do Minho, a um pouco mais de 42º N, dão bem conta dessa média. Uma latitude média boreal aproximada à de Pequim, norte do Japão, norte da Turquia e de muitos estados americanos: Nova Iorque, Illinois, Colorado e outros.
Talvez valha a pena abrir aqui um parêntesis devido às diferenças climáticas entre a costa leste dos Estados Unidos e a Europa. Ou, de uma forma geral, das diferenças entre as costas ocidentais e orientais dos continentes. É fácil fazer uma pesquisa pela internet e perceber as enormes diferenças. Em termos de comparação, nas costas orientais da América e da Ásia é comum nevar nas praias até latitudes tão a sul como 32º N. New Orleans, localizada mais a sul que a Ilha da Madeira ou Casablanca, fica coberta de neve uma ou duas vezes por década, e na quente Florida a temperatura já desceu a negativos . As temperaturas de Inverno são muito superiores às que se verificam em Portugal – em pleno Janeiro ou Fevereiro podem estar 25 ou 30 graus (temperaturas impensáveis nos meses do Inverno português), mas não deixa de ser um facto digno de nota a neve a latitudes tão baixas.
Outro exercício engraçado é fazer a comparação dos Invernos de Seoul, Nova Iorque e Pequim com os de Lisboa, Porto ou Coimbra. Há vários sites de meteorologia com números, factos e estatísticas.
Em termos resumidos, a explicação está na circulação atmosférica: nas latitudes médias setentrionais é feita no sentido Oeste-Leste. O vento que predomina vem de Oeste. No caso da Europa, significa vento do Oceano. Mais quente e húmido, naturalmente.»
De facto nevou em Lisboa. Tradicionalmente uma cidade amena durante o Inverno, a capital não está livre de queda de neve ou mesmo de chuva congelada. De uma forma geral as temperaturas descem acentuadamente quando os dias são soalheiros e sobem até índices confortáveis quando o céu nublado retém o calor. Por outro lado, o efeito designado por ilha de calor que a dimensão da área metropolitana produz, reduz, dramaticamente, as probabilidades de se verificarem temperaturas demasiado baixas, como atestam os registos históricos do século passado. Todavia, pode suceder o encontro de um massa de ar muito frio polar com uma massa de ar atlântico húmido, resultando em queda de neve. São situações muito pontuais que se registam uma ou duas vezes em cada 100 anos. A costa do Estoril, a cidade de Lisboa, a costa da Caparica e o litoral algarvio, são as zonas do território continental, onde menor possibilidade existe de se observar este fenómeno. No entanto, nenhuma está fora dessa zona de risco. Pelo contrário, todo o restante território continental português, viu ou vê, queda de neve. 
Cerca de três vezes, durante o século passado e uma já neste século, na década passada, a cidade foi afectada por nevões de média intensidade mas suficientemente densos para cobri-la por completo. A vegetação, típica de uma cidade meridional europeia, viu-se numa paisagem boreal e estranha aos lisboetas. Sucedeu em 1933 e, segundo relatos dos almanaques da época, causou muita surpresa e agrado aos habitantes que nunca antes tinham visto o fenómeno.
Esta fotografia foi registada em 1933, na Praça do Marquês de Pombal, em Lisboa e é o primeiro registo da cidade com neve. Ao fundo as Phoenix canariensis, parecem descontextualizadas.

O nevão de 16 de Janeiro de 1945 foi particularmente intenso e deixou a cidade branca por dois dias consecutivos. As imagens, que começam por mostrar a mesma zona de Lisboa que a foto anterior, relatam por si aquele dia especial.
 
Em cima, vista do alto do Parque Eduardo VII, com a Av Sidónio Pais e o Pavilhão Carlos Lopes, ao fundo. Em baixo, uma curiosíssima imagem da ruralidade da cidade de Lisboa, com o cultivo de hortas no alto do parque. Esta característica ainda se mantém sem que nunca tenha colidido com o cosmopolitismo e dimensão que a capital alcançou.



A avenida Fontes Pereira de Melo.

 Em baixo, a vista sobre a Estrela desde a Praça do Príncipe Real. Curiosa esta imagem de Jacaranda mimosifolia (Bolívia até ao noroeste da Argentina) com neve.

Em baixo, a vista da Praça do Príncepe Real.



Em cima e em baixo, o Jardim São Pedro de Alcântara, cuja água do fontanário congelou. Imagine-se os efeitos desastrosos sofridos pelas plantas tropicais mais sensíveis.

Em baixo, a Rua das Taipas.

A Baixa de Lisboa, em baixo.

O Chiado em várias perspectivas. Em baixo o torreão dos antigos armazéns do Ramiro Leão, actual loja Benetton e a fachada da basílica dos Mártires.

A vista da traseira da Rua da Emenda, sobre o Largo Barão de Quintella, ao Chiado.
 Estas Phoenix canariensis sobreviveram aos nevões de 1933, 1945 e 1954 mas desapareceram vítimas do escaravelho vermelho em 2013. Repare-se no cenário inabitual de palmeiras debaixo de queda de neve.


 Em cima, o aeroporto de Lisboa, então designado da Portela de Sacavém. Em baixo, o viaduto Duarte Pacheco, no vale de Alcântara.

Em baixo, do lado oposto do mesmo vale, junto ao aqueducto das Águas Livres, a vista do bairro da Serafina.


Cerca de 9 anos depois, os habitantes foram tomados de pasmo ao rever a cidade novamente coberta de neve. Naquela manhã de 2 de Fevereiro de 1954, fora a última vez que nevaria até ao final do milénio.
Nas duas cartas, podemos analisar como a vaga de frio chegada do norte da Europa fora excepcionalmente forte e intensa, baixando drasticamente a temperatura para valores muito anormais.


 Em cima, a Alameda Afonso Henriques e em baixo uma antiga vista da Avenida Almirante Reis, decorada com exemplares de Araucaria heterophylla (ilha de Norfolk, um território externo da Austrália), pouco tolerante a situações tão extremas.


Em cima, a Rua Rovisco pais ao cima da mesma alameda e em baixo o Campo Grande, onde se descobrem várias Washingtonia robusta alinhadas, as quais já haviam sobrevivido ao nevão de 1945. Ainda hoje se encontram no local, documentadas por uma foto anteriormente publicada, retratando as referidas palmeiras depois de uma forte queda de granizo a 17 de Janeiro de 2014.

Em baixo, uma série de fotos tiradas na Avenida António Augusto de Aguiar.

A despovoada Rua Castilho.

Durante todo o século XX fizeram-se registos sobre o comportamento do clima, o que proporcionou uma caracterização e descrição dos diferentes climas existentes em Portugal. Contudo, ainda não se conseguiu definir se existem, de facto ou não, ciclos de frio intenso com queda de neve. A existirem, estes são certamente mais frequentes no interior norte mas não estão excluídas as probabilidades de suceder em zonas do interior relativamente próximas do litoral, como Coimbra (a 38 km em linha recta do mar), Leiria (a 61 km em linha recta do mar) ou Viseu (a 62 km em linha recta do mar). A cidade de Coimbra serve como exemplo, uma vez que esta foto regista uma forte precipitação de neve a 11 de Fevereiro de 1983, quando em Lisboa, não se verificou.

A cidade de Coimbra enquadrada pela Serra da Lousã coberta de neve. A imagem lembra a Serra Nevada com a emblemática cidade de Granada, na Andaluzia ou Marraquexe e a cordilheira do Atlas. 



O receio repetiu-se no Inverno de 2006 quando a 29 de Janeiro, o litoral centro e sul sofreu a influência de uma massa de ar extremamente frio que colidiu com uma massa de ar húmido. Acabou por nevar com intensidade numa vastíssima extensão do território nacional continental, em particular no alto e baixo Alentejo, Estremadura, toda a região metropolitana de Lisboa, Ribatejo e Beiras.
A situação em Lisboa foi menos assinalável já que a neve ao tocar no solo desintegrava-se sem se acumular. 

 Em cima, o bairro de moradias junto à Avenida da Venezuela, em Benfica e em baixo, a Rua José Lins do Rego, junto à Avenida do Brasil.

 Em cima e em baixo, na zona da Portela, no concelho de Loures.

 Em cima, uma imagem antagónica onde um exemplar de uma Ficus elastica (Índia, Nepal, Butão, Birmânia, província de Yunnan na China, Malásia e Indonésia) com flocos de neve ou precipitação em forma de gelo, depositados nas folhas. Uma espécie que se desenvolve em regiões de clima ameno, repentinamente fotografada num ambiente pouco habitual. Em baixo, na zona de Telheiras, a neve amontoou-se em recantos protegidos, não sendo, porém, suficientemente densa para se manter no estado sólido em áreas mais abertas.

Por todo o país as temperaturas desceram a níveis muito baixos, próximo dos 0ºC o que originou panoramas entusiasmantes para a população. O que se torna interessante remarcar é o factor de risco a que as plantas tropicais estão sujeitas, bem como as subtropicais, quando cultivadas nas regiões do interior de Portugal. Não podemos jamais descartar vagas de frio intenso ou até a queda de neve, como se verificou, pelo que é premente saber onde localizar cada espécie de acordo com a sua capacidade de superar dias ameaçadores, como este. A escolha correcta de uma zona abrigada ou onde se produza um microclima é fundamental para que as espécies mais frágeis consigam sobreviver a algumas horas de rudeza climatérica.
Caldas da Rainha em cima, com a particularidade de vermos um exemplar de Ficus elastica debaixo de neve. A cidade das Caldas da Rainha, é conhecida pelos seus Invernos bastante frios e por essa razão torna-se surpreendente que esta espécie sobreviva e se desenvolva com algum conforto. Confirma-se que está inclusivamente capaz de suportar temperaturas bastante baixas desde que fugazes.
Borba, em baixo, num dia de muita neve. Estas Phoenix canariensis habituadas a temperaturas muito baixas algo frequentes no interior do país, não estão, porém, a sobreviver a condições meteorológicas com estas características.

Castelo branco, em cima e em baixo. Um olhar sobre esta imagem sem identificar a sua exacta localização, não nos levaria a acreditar que pudessem estas palmeiras, desenvolver em zonas do país onde se verifica queda de neve.

As imagens da praia da Figueira da Foz, cujo areal se transformou num manto branco de neve. Esta foi uma ocasião raríssima que se verificou ao nível do mar.



O famoso palmeiral do areal da Figueira da Foz, único no país ao gosto espanhol, conheceu neste dia 29 de Janeiro de 2006 um cenário absolutamente dramático. Note-se a Syagrus romanzoffiana, muito fustigada pela maresia constante que sopra do Atlântico, o que naturalmente dificulta o seu desenvolvimento, envolta e isolada pela neve que caiu intensamente. As outras espécies são Washingtonia robusta, Yucca gigantea (México até à América Central) e Cordyline australis (Nova Zelândia).


Évora, em cima e em baixo. O efeito da neve sobre os telhados da cidade altera por completo a sua fisionomia. Reporta-nos para as vilas e aldeias andaluzas ou do norte marroquino, em que as açoteias e telhados são branqueados na tua totalidade. Esta é uma oportunidade única de poder ler e interpretar esta cidade num estilo, a meu ver, bastante mais atraente. A mesma opinião recai sobre a foto seguinte da cidade de Portalegre.
A foto de baixo lembra-nos os aldeamentos turísticos da Costa do Sol espanhola, inspirados na arquitectura popular da região.

Lamego, em 2010, conheceu um outro forte nevão para além do famoso dia 29 de Janeiro de 2006. Esta cidade do interior norte conhece habitualmente dias muito frios com queda de neve. As populações não se surpreendem com o fenómeno. Todavia, é surpreendente como os exemplares de Butia capitata (do Estado de Minas Gerais, Brasil) toleram os rigores do Inverno. Do lado esquerdo um exemplar jovem de Phoenix canariensis.



O Algarve

Outra região que não associamos a paisagens com neve é o Algarve. Mas nem o extremo sul do país escapou às temperaturas excessivamente baixas no ano de 1933 e do dia 2 de Fevereiro de 1954. As imagens são únicas e registam momentos únicos na história da região.
Esta fotografia datada de 1933 pertence à câmara municipal de Loulé. Sem identificação exacta do local, confirma de forma inequívoca como o Algarve ficou bem nevado naquele dia de 1933.
As imagens que se seguem datam todas de 1954 e registam momentos um pouco por todo o Algarve.
A foto de cima, mostra-nos a vista da cidade de Faro com a Ria Formosa ao fundo e a foto de baixo, mostra-nos o Cerro de São Miguel, a 411 m, o ponto mais alto da Serra Monte Figo, bastante afectada pela neve. Nos telhados da cidade, resistia alguma neve acumulada.
Em baixo, o Jardim Manuel Bívar na baixa de Faro.


Em baixo, Loulé.


Em cima, a Avenida 5 de Outubro em Olhão. Em baixo, na estrada nacional 125, junto a 4 km de Olhão, os campos estavam completamente brancos.


Em baixo, no interior da região de Olhão, próximo à localidade de Marim.

Tavira, em baixo.


Aljezur na Costa Vicentina.

Em baixo, no castelo de Silves.

Lagoa, nas fotos seguintes.





Em baixo, a Rua Júdice Biker, em Portimão.

E a curiosa descrição no jornal local sobre o acontecimento do dia 2 de Fevereiro de 1954.


Enquanto por grande parte do território nacional, a neve caia com intensidade, no Algarve, a 29 de Janeiro de 2006, apenas as terras altas viram queda de neve como aconteceu por toda a Serra de Monchique e a Serra do Caldeirão; em Alcaria do Cume, o seu ponto mais alto no concelho de Tavira, a 535 m de altitude, como demonstra a imagem em baixo e na seguinte, em Barranco Velho, num outro ponto alto da mesma serra, mas pertencente ao concelho de Loulé.