quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Roteiros e visitas pela paisagem vegetal de Portugal: de Elvas à Badajoz espanhola



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Roteiros e visitas pela paisagem vegetal de Portugal: de Elvas à Badajoz espanhola

A cidade de Elvas, no Alto Alentejo, surpreende-nos pelo seu empenho e determinação na preservação do seu património edificado. Exemplo raro naquela região do sul de Portugal, Elvas leva-nos a perceber como é possível recuperar economicamente uma região ou cidade, através do investimento na área cultural e patrimonial. 
 Certos de que a monumentalidade da cidade se manifesta como o factor mais interessante para a sua promoção e dinamização, é fácil concluir que os responsáveis camarários souberam sagazmente devolver a todas as jóias patrimoniais que se encontram no perímetro da cidade de Elvas, ânimo, interesse, luz, atracção e sobretudo orgulho.
 Uma atitude deveras arrojada e com um sabor muito espanhol, querendo referir-me ao facto de ser evidente o aproveitamento turístico de todas as oportunidades que as áreas urbanizadas proporcionam. Sente-se naquela cidade alentejana uma fortíssima aprendizagem da filosofia de vida urbana das cidades espanholas, profundamente vividas pelos seus habitantes como excelentemente preparadas para os visitantes.
Abordando a temática paisagística, Elvas é uma cidade cujo clima limita a variedade cultivável de material vegetal tropical e até mesmo subtropical, sobretudo devido ao efeito do intenso frio que se sente ao longo do Inverno. A proximidade de Badajoz, já em território espanhol, a cerca de 22 km de distância, não inspirou esta cidade alentejana em arrojar com a variedade de espécies subtropicais que se observam do outro lado da fronteira.
Num extremo do recinto amuralhado da cidade velha, próximo à Rua da Parada do Castelo e da Rua das Beatas, este pequeno arranjo atraiu de imediato a minha atenção. O conjunto de espécies exóticas xerófitas ainda pouco exploradas no nosso país, adequa-se brilhantemente ao local se atendermos à questão estética bem como ao clima, uma vez que se trata de vegetação própria de lugares secos.
O grupo alinhado de Yucca filamentosa (Sudeste dos Estados Unidos) em jogo com Agave americana (sul dos Estados Unidos até ao México), ainda que bastante comum na região, até como sub-espontânea, conseguem um excelente resultado numa composição que visivelmente foi projectada tendo em vista a escolha de espécies simples e economicamente viáveis. O remate, ao fundo, com vários exemplares de Dracaena draco (Ilhas Canárias) conferem a este pequeno espaço, alguma distinção e atrevimento, já que se trata de uma espécie bastante rara no interior alentejano.
De todas as maneiras, este maciço de exemplares confirma-nos um projecto de bom gosto e espécies bem seleccionadas capazes de suportar longos períodos de secura sem manifestar sintomas de tensão hídrica. 
No entanto, o que mais me impressionou foi, indiscutivelmente, a abertura para um estilo paisagístico de linha moderna depurada, com recurso a exóticas subtropicais, e tropicais sempre que o clima o permita, muito frequente no país vizinho, embora invulgar ou raro em ambientes portugueses, com especial incidência no Alentejo.
Parece-me que algum eventual atraso no paisagismo português pode estar, com este exemplo, a ser recuperado, ainda que com timidez, mormente na região alentejana.
Certamente a influência de uma cidade de dimensão média para os padrões de Espanha, e considerável a grande, como Badajoz, a qual segue os princípios de paisagismo tão característicos daquele país, poderiam ser motivo forte e suficiente para introduzir alterações nos padrões paisagísticos portugueses, de um modo geral, menos atentos à variedade de espécies utilizadas, menos criativos e com menor lugar nas áreas urbanas das cidades do nosso país.
A monotonia que os arruamentos das pequenas cidades e vilas portuguesas, da zona fronteiriça, apresentam é contrastante com o movimento e alegria das árvores de alinhamento, canteiros e bordaduras das típicas largas avenidas espanholas, bem como a utilização de espécies de folha perene, que contrariam a tristeza do Inverno, aliás bastante rígido nesta zona de Portugal e Espanha.
O recurso a palmeiras, é como seria de esperar, uma marca profundamente espanhola e largamente utilizado até ao limite territorial do país vizinho tendo na passagem da fronteira para Portugal, uma interrupção dramática. 
No lado nacional, abundam exemplares de Platanus x hispanica  cujo sinónimo é Platanus  x hybrida, classificado pelo nosso botânico do século XVIII, Felix Brotero. Estes exemplares conferem um aspecto pouco característico da região onde nos encontramos e, infelizmente, pouco enaltecem os vínculos que a vegetação local poderia conceder aos aglomerados populacionais do sul do nosso país. Pelo contrário, em terras espanholas, as cidades da Extremadura e da Andalusia, são ornamentadas com espécies que documentam-nas com uma imagem muito própria e meridional, fazendo sentir nos seus habitantes, quer nos seus visitantes, que vivem ou visitam essas urbes, uma fortíssima identidade mediterrânica.
Este pormenor escapa na paisagem geral das cidades portuguesas, sobretudo na zona sul de Portugal, onde, actualmente ainda se insiste na plantação de árvores de ornamento e alinhamento de folha caduca, muitas vezes provenientes de climas temperados.
Por conseguinte, a identidade que estas cidades meridionais deveriam ter, perde-se rapidamente, e com essa perda de cor, movimento e alegria que espécies que tão bem definem o mediterrâneo poderiam imprimir, sente-se um empobrecimento na capacidade em se tornarem locais atraentes e interessantes para as populações.
 A imagem acima e em baixo são registos da cidade de Badajoz, em Espanha, com cerca de 150 mil habitantes em grande contraste com os 15 mil de Elvas, denota, como em qualquer outra cidade do sul do país vizinho, bastante alegria na composição vegetal das suas ruas e praças, onde se descobrem exemplares densos, bem desenvolvidos e com preponderância mediterrânica. As espécies exóticas são, na sua maioria, de folha perene, o que permite à cidade guardar um aspecto menos carregado na passagem do Inverno. São o caso da Tipuana tipu (Norte da Argentina e Bolívia), Ceiba speciosa (Sul do Brasil e Norte da Argentina e Bolívia) e Ficus elastica (Índia, Nepal, Butão, Birmânia, província de Yunnan na China, Malásia e Indonésia).
Ainda que a cidade tenha sofrido um desenvolvimento pouco ordenado e esteticamente duvidoso, a exuberância da vegetação, variada e muitíssimo alegre, oferece bem-estar aos seus habitantes, proporcionado-lhes uma boa qualidade de vida, convidando-os ao convívio ao ar livre. Repare no movimento que as inúmeras Phoenix canariensis (Ilhas Canárias) e P. dactylifera (Próximo oriente e Norte de África) provocam, quando cultivadas em densidade. Outra particularidade está na abundância de vegetação, sem que o estigma do risco de danificar estruturas persista, como no lado português.
A pequena diferença de mentalidade e interpretação no paisagismo urbano redefine em poucos quilómetros de distância, uma cidade portuguesa de uma outra espanhola. Este pormenor é absolutamente chocante, extraordinário e espantoso para o sensível apreciador de paisagem e material vegetal.