segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Atrocidades cometidas contra plantas


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Atrocidades cometidas contra plantas 

São muitos os episódios atrozes que assaltam o espírito dos mais atentos ao património vegetal existente no nosso país. De uma maneira geral, o povo português ainda combate com vigor a existência de espaços verdes por, tantas vezes justificarem, causar prejuízos às construções vizinhas, tornarem-se um factor de risco para a segurança das pessoas nos espaços públicos, por serem produtores de lixos e detritos que provocam entupimento de condutas e vazadores de águas pluviais, para além de carregarem consigo a pena de exigirem elevada manutenção, limpeza e tratamentos contra pragas e doenças. Em suma, confirma-se entre os portugueses que, plantar é desde logo um perigo para o futuro, acarreta encargos financeiros, levanta problemas sociais e de vizinhança. Mas há quem resista e se atreva a cultivar algo que é, na opinião geral do conhecimento dos populares, uma asneira ou até um perigo. Efectivamente existem situações, pontuais, em que devo concordar com esta mentalidade, não obstante, estar pessoalmente e por princípios gerais, totalmente contra. Vejam o caricato da situação;

O azar de algumas Phoenix canariensis terem nascido em território nacional. Relatos em três tristes histórias.



É bastante comum os restaurantes esforçarem-se por alegrar as entradas dos seus espaços com vasos, frequentemente em mau estado, baldes recuperados ou outros contentores reutilizados para plantar espécies vegetais, os quais conferem um aspecto duvidoso, contrária à intenção a que se propunham chegar. Enfim, confesso que é um comentário muitíssimo pessoal mas não menos válido de publicar.

A questão agrava-se quando mais de perto percebemos como este exemplar de Phoenix canariensis se adaptou fabulosamente ao caixote do lixo colocado na entrada deste restaurante. O recipiente de plástico quando foi escolhido para colocar, provavelmente uma semente desta espécie de palmeira, seria de dimensões francamente grandes para a sementeira. Ora, o que certamente não esperaram que acontecesse fora o desenvolvimento rápido e saudável da planta naquele lugar, pois esta espécie de palmeira tem capacidade para rebentar e até destruir aquele material e enraízar directamente no solo. Estava assim garantido o seu nível de desenvolvimento ao ponto a que chegou quando a fotografei. O insólito é imaginar o enorme balde de plástico removido, cetamente acabará por deteriorar-se, uma vez que os raios ultra-violetas degradam aquele material facilmente. O resultado será um indivíduo em desequilíbrio correndo o risco de tombar e quebrar as suas raízes, matando o exemplar.
Vista de cima, a imagem desta palmeira sugere uma situação absolutamente normal. Contudo, o insólito surpreende-nos tanto pelo ridículo quer pela insensatez na plantação daquele exemplar naquele locar (seja pelas dimensões que atinge a espécie P. canariensis, seja pelo recipiente escolhido).
Somente alcanço uma única solução para esta curiosidade imaginativa da jardinagem popular, se o objectivo for a manutenção da planta, bem entendido. Passa pela remoção do contentor e substituí-lo por um canteiro, de preferência de ferro em forma quadrangular, o qual acompanha o espaço limitado existente entre as duas entradas daquele restaurante. Ficará elegante sem danificar o torrão de raízes.
Veja melhor o que parece ser difícil acreditar ou veja presencialmente e dirija-se à Rua Capitão Humberto Ataíde, a Sapadores. Fotos do autor de 2010.



Este é outro caso hilariante e testemunho de total ignorância de quem ordena esta prática. Pondero que tenha sido considerada a questão da praga do escaravelho vermelho (Rhynchophorus ferrugineus)que ataca esta espécie e por prevenção o executante acreditou que remover totalmente as ramas tornaria o exemplar protegido de um futuro ataque. A imaginação pode tanto ter-se apoderado de quem se baseou neste fundamento como aquele que praticou a barbárie. O custo de cortar as folhas daquele exemplar não seria muito diferente de aplicar o produto prevenivo contra a praga.
Um folheto informativo editado pelo Museu Nacional de História Natural explica o seguinte; 'abster-se de realizar podas ou outros cortes no tecido vegetal se não forem absolutamente essenciais, por exemplo, para conduzir as próprias acções curativas no caso da palmeira ter sido atacada'. Trata-se de uma informação sobre um problema de fitossanidade pública e que tenta salvaguardar os exemplares sobreviventes a esta doença. Neste caso, o dono desta palmeira está a contribuir contrariamente ao que é indicado pelas autoridades. O que a naturalmente ainda não sucedeu àquele indivíduo poderá acontecer por acção humana. O seu desaparecimento. Este episódio aconteceu na Av. António Florêncio dos Santos em Caxias. A foto data de 2010 e, para minha absoluta surpresa e choque, o facto repetiu-se em 2012. Não poderá aquela planta suportar tanta agressão que já demonstra ao diminuir a dimensão das suas folhas, uma vez que não tem capacidade para regenerar-se de uma poda tão violenta. Sucessivas podas agressivas como as que tem vindo a acontecer acabarão por enfraquecer e esgotar a palmeira irremediavelmente. Imaginação e criatividade populares portuguesas, novamente sem nada mais a conseguir acrescentar.
Foto de 2012.



Penso que neste episódio ninguém pensou. Foi isso que faltou nesta escolha, foi pensar que ao plantar uma planta de porte arbóreo, qualquer que fosse, seria plantar para mais tarde cortar, ou seja, matar. O problema nesta situação está no facto de, seguramente, esta escolha não ter sido projectada, ou melhor pensada, por uma única pessoa senão por uma série delas, desde quem projectou um canteiro debaixo de um viaduto até ao funcionário que na prática executou a plantação destas 4 infelizes Phoenix canariensis. Ninguém usou de uma grande faculdade que é exclusiva do homem, ou pelo menos de alguns; pensar. Não encontro mais comentários. Ficam as imagens tão descritivas como espantosas.

Rua João de Freitas Branco, junto ao metro do Alto dos Moinhos em Lisboa. Foto de 2010.
Encontrei uma situação idêntica no final da Av Infante Santo, em Lisboa, onde debaixo de uma ponte para passagem de peões, fora plantada uma P. canariensis que, naturalmente, acabou por ser arrancada. O seu crescimento ditou o final tão infeliz quanto previsível, uma vez que colidiu com o tabuleiro da estrutura.

 (Em baixo foto do autor de 2010)


Em baixo, uma outra Phoenix canariensis condenada. Não consigo entender porque razão a escolha destas vítimas recai sempre nesta espécie. Tampouco consigo compreender uma qualquer explicação para justificar ou comentar estas fotografias. Este infortunado exemplo foi registado na Av. do Movimento das Forças Armadas, junto à rotunda de Entrecampos.




(Fotos do autor de 2013)

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